Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Um plágio autorizado

Ontem, por aqui, escrevi sobre a situação dos corpos artísticos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Muito tem sido dito sobre o assunto nas redes sociais e, na última semana, na grande mídia. Um dos melhores textos sobre o assunto que eu li até agora é de autoria do respeitado violinista e professor Adonhiran Reis. Pedi autorização e ele permitiu que eu reproduzisse aqui a suas belas palavras:

A cultura no Rio do futuro?

Parafraseando Lula, "nunca antes na história deste país..." se falou tanto no futuro do Rio de Janeiro. 2014, 2016, as soluções de todos os nossos problemas estarão lá, nos discursos mil vezes repetidos pelos governantes. Toneladas de dinheiro investido, a cidade se transformou em um enorme canteiro de obras, perimetral, BRT, o Maracanã reformado pro PAN, reformado DE NOVO pra Copa, será que conseguem agendar uma terceira reforma entre a Copa e as Olimpíadas? O dinheiro público jorrando, passando feito um tsunami mudando a cara da cidade com suas pseudo-melhorias.

Mas e a Cultura? O caso do Theatro Municipal do Rio de Janeiro é um emblema do descaso das autoritárias autoridades para com o patrimônio cultural da cidade. Se somos capazes de sugerir a demolição de um museu e uma escola (Escola Municipal Friedrenreich, 10o lugar no Ideb nacional!) para dar lugar a um estacionamento, por que se preocupar com óperas? Ah, mas teremos a Copa! E daí? Parece-me que os Maias erraram na sua previsão de final do mundo. Ele não acaba em 2012, mas em 2016. Só se fala nestes eventos, se gasta mais do que deveria por esses eventos como se não houvesse um 2017, quando chegar a conta. O governo estadual pegou um empréstimo de 3,6 bilhões de reais com o Banco do Brasil a ser pago em 20 (VINTE!!) anos. A conta vai ser alta. E quem vai pagar? A construtora Delta?

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1909, sob influência da Belle Époque, em uma época de transformações no Rio de Janeiro (aí sim, verdadeiras transformações, não tapa-buracos). O prefeito Pereira Passos junto com Oswaldo Cruz abriram a cidade com suas grandes avenidas, incluindo a Avenida Central (atual Rio Branco), Avenida Maracanã, e outros marcos, como o Palácio Monroe. Os governantes de então não somente compreenderam a importância da cultura na construção de uma identidade nacional, assim como a ela deram destaque, incluindo neste novo Rio de Janeiro o Museu de Belas-Artes, o Theatro municipal, a Biblioteca Nacional e outros.

O Theatro foi palco dos maiores artistas de música de concerto do século XX, como Toscanini, Macagni, Rostropovitch, Bernstein, assim como artistas populares, Caetano, Roberto Carlos e outros. O Theatro possui uma situação que seria invejada por qualquer cidade do mundo, mas que aqui é vista com desdém: possui 3 corpos estáveis maravilhosos, celeiros de talentos, a saber sua orquestra, seu coro e seu ballet. Ou seja, o sonho de qualquer administrador, uma casa linda, e infinitas possibilidades de criação musical, tendo até cenários múltiplos, sem ter que se preocupar com folha de salário!

Porém o seu maior trunfo é visto como um peso pela atual administração. Tentaram sem sucesso transformar um século de acertos em uma OS, com uma justificativa fraca, sempre o velho discurso da "excelência e do nível internacional". Isso lembra alguma coisa? Nível internacional esse que o Theatro tinha no passado. Então vamos pegar esses corpos estáveis e entregar as moscas. Ou quase. 2 ou 3 míseras óperas por ano, um ballet (sempre os mesmos) e pronto. Está transformada a casa em uma casa de aluguel para eventos. Tipo uma boate.

"Ah, mas não temos dinheiro! Com a queda dos prédios da av. 13 de maio e cortes no orçamento não temos como montar uma programação melhor...". Humm... 3 corpos estáveis, solistas maravilhosos dentro deles, figurinos e cenários a disposição e não podemos montar óperas e ballets, além de concertos sinfônicos? O que falta? Imaginação??

Agora pedimos por um concurso. Os corpos estão desfalcados com falecimentos e aposentadorias (inevitável com concursos realizados a cada década). Ao invés de preencher as vagas, colocam músicos temporários, que são demitidos no final do ano e recontratados no ano seguinte. Qual é mesmo o termo que melhor define isto mesmo? Ah, lembrei, subemprego. Mas no jornal o Globo de 15/11/12 a presidente da Fundação Theatro Municipal (ou presidenta? sempre me perco com isto) enxerga uma solução para a falta de concurso: "a solução será a de sempre. Outras pessoas serão contratadas temporariamente". Bela solução.

Então Sr. Governador? O que estamos esperando para o concurso? É uma pena que neste "belo projeto" de Rio de futuro, se esqueçam do Rio que sempre existiu. No afã de reinventar a roda, saímos todos prejudicados. Sorte do Stevie Wonder que vai ganhar 7 milhões de reais pra realizar o show do reveillon na praia de Copacabana. "Nunca antes neste país" tivemos uma cultura tão pobre.





Parece que eu estou sempre aplaudindo esse cara!

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