"Já fui a muita
missa na minha vida. Já assisti sermões de padres, bispos, monsenhores e dois
papas! Mas nunca senti uma energia espiritual tão forte quanto essa de hoje. É
muita bênção!"
Essas palavras não são
minhas. Ouvi de uma senhorinha na saída do Theatro Municipal após a
interpretação do Messias de Handel pela Orquestra Petrobras Sinfônica, na
última sexta-feira. Realmente, foi uma noite abençoada. O homenageado, maestro
Armando Prazeres que teria completado 80 anos esta semana, certamente estava
assistindo do seu camarote celestial a sua obra predileta sendo tocada pela
orquestra que fundou, com um filho regendo (Carlos Prazeres) e o outro de
spalla (Felipe Prazeres). E o que se ouviu, acordou os anjos.
A mezzo-soprano
Carolina Faria foi o destaque dentre os solistas, não apenas pela belíssima
performance mas pelo seu envolvimento com a obra ao longo de toda sua duração.
Mesmo quando não estava cantando, era notável sua concentração, sua emoção
diante da performance dos colegas e sua entrega à música do oratório.
Consequentemente, suas falas estão entre as mais memoráveis da noite, com
menção honrosa para "O thou that tellest good tidings to Zion" e
"He was despised and rejected of men". Nesta última passagem, que
retrata a paixão de cristo, ficou sensível o ódio e desprezo direcionado ao
Cristo e o penar da interprete em relatar tamanho sofrimento. A cena parecia se
desenrolar diante dos nossos olhos enquanto as cordas da orquestra ditavam o
ritmo dos passos romanos.
O barítono Sávio
Sperandino também rendeu momentos de fortes emoções. "Why do the nations
so furiously rage together", em tempos de guerra no Oriente Médio, chocou
pela atualidade de uma obra composta em 1741. "The trumpet shall
sound" veio com anúncio potente e um trompete divino (Nelson Oliveira)
soando do camarote presidencial, como deve ser um recado do
todo-poderoso.
Diretamente dos céus,
voaram para o palco os Canarinho e Canarinhas de Petrópolis, para o nosso
deleite auditivo. Esse coral infanto-juvenil é uma joia preciosa que coroou a
apresentação da OPES com delicadeza e pureza. As vozes que anunciaram o
nascimento de Jesus ("O thou that tellest good tidings to Zion"), o
ascenderam ao céu ("Lift up your heads, O ye gates"), e festejaram a
glória de Deus em um emocionante "Hallelujah" que resultou em um
caudaloso rio de lágrimas que escorria pela minha face.
Antes do Amen, Handel
guardou ainda uma última prece: "If God be for us, who can be against
us", uma frase que, coincidentemente, minha mãe me ensinou a murmurar cada
vez que inicio uma viagem. E desta vez a proteção divina veio da voz da soprano
Rosana Lamosa, do violino de Felipe Prazeres e do violoncelo do Hugo Pilger.
Que Handel os abençoe.