Sempre tive uma certa dificuldade
para entender porque algumas pessoas não gostam de música clássica. Segundo uma
palestra do Benjamin Zander na plataforma TED (muito boa, por sinal,
recomendo!), apenas 3% da população se considera amante da música clássica. Os
outros 97% se dividem entre pessoas que não ligam, nunca ouviram ou não gostam.
Para os otimistas como eu, isso significa que há um potencial enorme de
crescimento!
No entanto, parece que estamos
caminhando para o lado oposto. Diariamente escuto relatos de orquestras
falindo, gravadoras fechando, concertos vazios e falta de espaço e
investimento. Ao que tudo indica, há menos interesse hoje pela música clássica
em relação ao passado e muitas pessoas, incluindo músicos, compositores e
produtores acreditam que essa arte (principalmente orquestras sinfônicas) não
sobreviverá a mais uma ou duas gerações. Essa afirmação me causa pavorosos
arrepios!
Resolvi investigar se o interesse
geral pela música clássica está realmente em queda. Na verdade, queria uma
desculpa para usar uma ferramenta superlegal do Google chamada N-gram Viewer. Ao colocar uma
palavra-chave nesse brinquedinho, ele escaneia toda a literatura mundial que já
foi digitalizada pelo Google e outras iniciativas e disponibiliza o resultado em
termos percentuais (número de livros que citaram a palavra-chave em relação ao
número de livros publicados naquele ano) por ano. Em outras palavras, quanto
mais alto o n-gram, mais popular é o
assunto durante aquele período. OBS: Sim, eu sou nerd e esse tipo de coisa me diverte.
Comecei a minha busca pelo termo “música
clássica” (sempre em inglês pois há mais referências para formar uma tendência
geral), no período entre 1800 e 2008. O gráfico resultante me deixou animada
pois mostrava uma nítida tendência de crescimento do interesse ao longo do
tempo, com uma ligeira queda na última década.
No entanto, me dei conta que o termo talvez não fosse o mais
apropriado haja vista que mudamos a forma como nos referimos à música clássica.
Afinal, no século XIX, a música de Beethoven não era chamada de “clássica”, só
para citar um exemplo. Então tentei de novo, usando termos que não mudaram
tanto ao longo do período de busca como “ópera”, “concerto”, “orquestra” e “sinfonia”
e o resultado foi bem diferente.
A primeira coisa que chama atenção é que a ópera parece ter
sido sempre mais popular do que as demais “modalidades”. Fica a dica para a
diretoria do Theatro Municipal do Rio de Janeiro voltar a produzir algumas...
Em seguida, reparamos que o comportamento das quatro curvas é quase idêntico, apresentando
um aumento gradativo de citações desde 1800 até o pico de interesse em meados
da década de 1940. Desde de então, infelizmente, só declínio para todos.
A título de curiosidade, resolvi investigar os compositores
mais famosos para saber como ficaria essa relação ao longo desses dois
séculos... e não é que fica igualzinho! Pelo jeito, os anos dourados da música
erudita foram mesmo na década de 1940 (pelo menos de acordo com o meu método de
pesquisa infalível e super científico). E agora a perguntinha que não quer
calar: por quê?
O que estava acontecendo no mundo ocidental nesse período
que poderia ajudar a explicar o solo fértil para a música clássica e por que
ela não continuou sendo de interesse da população em geral nas décadas
seguintes? Será que o nível de interesse atingiu um novo patamar ou será que
continuará a cair? Os fatores que causam esse declínio são os mesmos há 70 anos
ou será que foi uma sequência de eventos, acontecimentos e mutações? Podemos
reverter essa tendência? Como?
Acho que chega de ponto de interrogação por hoje. Vou
estudar mais um pouco e pedir ajuda aos universitários e volto em breve para
continuar a nossa prosa. Enquanto isso, vejam no link abaixo a tal palestra do
Benjamin Zander que comentei no primeiro parágrafo. É uma das minhas
prediletas.