Subiu a cortina

Caro leitor,

Seja bem vindo ao mundo das cordas, madeiras e metais. Aqui você encontrará minhas impressões sobre diversos concertos de música erudita realizados na cidade do Rio de Janeiro. Também compartilhará dos meus devaneios sobre o mundo dos clássicos e algumas dicas de programas, filmes e discos. Só peço a cortesia de fazerem silêncio durante o concerto (e nada de ficar desembrulhando balinhas). Obrigada!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Auê total!

Todo final de ano é aquele mesmo auê! Correria para encerrar projetos, milagres para fechar orçamentos, um vira-tempo para dar conta de mil confraternizações e as famosas resoluções de ano novo. A expectativa é tão grande que a gente realmente acredita que vai fazer exercício regularmente, procrastinar menos no trabalho, e encarar sem dificuldade três desafios de leitura. E eu sempre juro de pés juntos que vou escrever neste blog com mais regularidade. Mas aí, em menos de um mês, já foi tudo por água abaixo. Pelo menos por aqui, ainda dá para recuperar o tempo perdido.

O ano começou, como de hábito, com um grande jejum de concertos graças às férias insuportavelmente longas dos músicos de orquestra da cidade. Enquanto isso, a gente se diverte com outras artes e a programação teatral no Rio está bombando. Dentre as peças em cartaz está mais um grande acerto da Sarau Agência de Cultura Brasileira e da Companhia Barca dos Corações Partidos (adoro esse nome!) com “Auê”.

Imagem "roubada" com todo carinho do Facebook da Companhia.

A peça (ou seria show?), reúne uma coleção impressionante de talentos incorporados em sete músicos/dançarinos/cantores/atores, mais um Rick de la Torre empolgadíssimo na bateria. Só de instrumento, se não me falha a memória, foram apresentados números com guitarra, baixo, sanfona, rabeca, saxofone, trombone, flauta, trompete, triângulo, e vários tambores e instrumentos de percussão cujos nomes corretos desconheço. Como se não bastasse atuar e tocar um instrumento, cada integrante do grupo toca no mínimo três, de pé, deitado, de cabeça para baixo, dançando e cantando ao mesmo tempo (o Beto Lemos é excepcionalmente irritante de tão versátil). O resultado são números belíssimos, ora leves e divertidos, ora profundos e emocionantes. Ah sim... as músicas são próprias. Eles brincam que é para não pagar direito autoral mas eu acho que é só para esbanjar mais um pouco o excesso de habilidade artística.

A expressão corporal meio descontruída e a movimentação do elenco no palco são um espetáculo à parte. A direção genial de Duda Maia soube aproveitar maravilhosamente bem a disposição do teatro de arena do SESC de Copacabana, privilegiando movimentos constantes, fluidos e entrelaçados. A iluminação perfeita e sincronizada com toda essa movimentação, assim como a maquiagem meio mística, dão o toque para que a emoção transborde.

Dentre meus números prediletos, destaco o longo e comovente poema/cordel declamado por Eduardo Rios; os números cômicos do Renato Luciano e os introspectivos com direito a solo de flauta do Alfredo del Penho; a linda canção do Fábio Enriquez pendurado na rede vermelha; o solo do Ricca Barros na escuridão, só com o rosto iluminado que me arrepiou todinha; e a música que encerra o espetáculo e arranca aplausos efusivos da plateia.

Mais impressionante que o espetáculo em si é a revelação que ele foi todo montado sem patrocínio. É nessas horas que não dá para entender o que se passa na cabeça dos apoiadores da cultura neste país. Um espetáculo lindo, brasileiríssimo, original e criativo merece todo o apoio para que ele possa deslumbrar plateias Brasil afora. Parabéns e obrigada à produção que nos brindou com esse presente.

Infelizmente a temporada de “Auê” se encerrou no último domingo. Quem perdeu tem que torcer para eles voltarem logo ao Rio. Quem foi e está doido para reviver alguns dos números mais memoráveis pode dar uma contribuição para a “vaquinha” que financiará o CD. É só clicar aqui ó: www.benfeitoria.com/auê. Um dos brindes para quem doa é uma serenata! Vai perder essa?


Só para fechar, no final da noite de sexta, quando fui assistir à peça, encontrei com o Adrén Alves no ponto de ônibus. Além de ser lindo e dono de uma voz surpreendente e encantadora, ele é um fofo e eu ganhei um abraço carinhoso. Ô sorte!